Coração de Vidro

Há muito tempo, em eras distantes, o coração era considerado a fonte total da vida. Era o coração que proporcionava as emoções, sentidos e sentimentos. O coração era retratado em figuras e pinturas como o centro do corpo humano, refletindo poder, força e vigor! Mesmo os autores mais brilhantes e eloqüentes se “esqueciam” da magnífica bomba do corpo, responsável pela circulação sanguínea e se rendiam à metáfora da procedência das emoções, dos sentimentos e das dores da alma, ligadas ao coração. Talvez isso se devesse ao fato que o coração reagia, batendo rápido, a emoções como amor, raiva, alegria e exercícios físicos. Aliado, também, ao fato de que o coração está próximo ao centro do corpo humano, isso traz concepções de que ele é o centro de emoções primárias e direção moral.

Diz-se que quando sofremos, nosso coração dói. Quando um amor não é correspondido, ficamos abafados, com o peito apertado. A poesia sublime de Salomão em seus vários textos narra palavras que reforçam o conceito do coração ligado aos sofrimentos da alma (Pv 15.13). Para os poetas, assim como Salomão, o coração é como o núcleo de toda a nossa existência, é nosso íntimo (Pv 20.27). É a fonte da vida (Pv 4.23).

A mente é a figura da razão, do pensamento. O coração, a fonte da emoção. Na mente a racionalização das coisas; no coração a vivência e o fluxo do sentimento.

No Egito, ao se preparar um Faraó para a mumificação, o coração e outros órgãos eram enterrados com ele, mas seu cérebro era removido do crânio e jogado fora. Historiadores concordam que milhões de anos se passaram antes de o cérebro ser reconhecido como o mais importante órgão do corpo.

Democritus, Hipócrates e Aristóteles descreveram o coração como o centro da alma. E a metáfora continua aqui neste pequeno artigo.

Quando escolhemos com o coração e não com a mente corremos o risco de errar, escolhemos pelo sentimento e não racionalizamos. Por outro lado, diz-se que nosso coração pode enxergar coisas que nossos olhos não vêem. Nosso manual espiritual, a Bíblia, também diz que nosso coração é enganoso.

Mas um órgão tão especial e tão respeitado por célebres pessoas deve ser levado em consideração por nós. Há tempos, corações de vidro tomam o lugar dos corações de carne e, quando se quebram, despedaçam também o vigor e o ânimo! Quando construirmos nossas vidas em torno de algum sentimento, saberemos que quando esse sentimento sofrer uma interrupção poderá haver sérios problemas. É certo que pessoas nos machucam, mas é fato que nos ferimos procurando, nós mesmos, a dor. É verdade que pessoas inescrupulosas brincam com nossos corações por não valorizarem o propósito de suas vidas e o sentido que essa vida tem para si mesmas e para os outros.

Sei que seu coração está frágil, está a ponto de se quebrar. Cicatrizes que marcaram e que agora voltam a doer. Memórias de um passado que parecia bom, agradável e perfeito e que agora não existe mais. Um vento forte veio e arrastou com ele seus momentos bons como se fossem poeira. Sua mente parece saudável, mas seu corpo padece inteiro por causa da dor de seu coração. O que mais adoece um coração tornando nossa força frágil é o remorso, as lembranças que não deixamos ir embora. Situações e momentos que aconteceram e que agora não fazem mais parte de nossa vida. É preciso deixar que essas coisas saiam de nosso íntimo, já que não fazem parte mais de nossa vida. É preciso deixar que elas se apaguem para dar lugar a novos acontecimentos que virão. Não há mais como você viver assim amarrado a sentimentos que lhe tornam fraco, triste e deprimido. Seu coração deve ser purificado, lavado, aliviado do peso dessa dor que lhe suga a paz. Num instante você verá que Deus pode tornar forte um coração fragilizado. Que ele pode retirar cicatrizes que pareciam incuráveis.

Não pense em transformar seu coração em pedra, que de tão magoado ficou seco e sem vigor! Deus quer que em seu peito pulse vida com abundância, um coração que sente emoções boas, um coração renovado, batendo em compasso com a vontade perfeita do Senhor de sua vida.